Quando eu tinha 5 anos, eu caí de bicicleta e me machuquei. Pensei comigo que jamais curaria aquele machucado, então conclui que nunca mais andaria de bicicleta também. Aos 7 anos comecei a aprender a tabuada, difícil, pensei que jamais conseguiria entender aquilo. Aos 10 anos eu quis crescer, mas ansiosa, achei que jamais cresceria. Aos 15 eu era a única entre minhas amigas que nunca havia beijado, desolada, pensei que jamais beijaria alguém. Aos 18 eu queria um emprego, mas quanto mais eu o queria, mais eu pensava que jamais o teria.

Acreditem, eu andei de bicicleta novamente, eu aprendi tabuada, eu cresci, eu beijei na boca, eu tenho um emprego e eu continuo pensando em vários “eu nunca”.

Não é questão de não acreditar que é possível, mas sim a sensação de que não há mudança para si mesmo. E isso é querer se sabotar, é querer sabotar a sua vida. Isso é dar ouvidos ao desespero e se colocar em um lugar que você acredita ser só para você: no comodismo.

É muito mais cômodo e fácil aceitar que jamais terei que fazer algo, do que me levantar para tentar mudar essa situação. Ou seja, aos 5 anos foi mais fácil aceitar que eu jamais andaria de bicicleta e que aquela seria a melhor solução, do que realmente tentar andar novamente, encarar o medo e aprender a frear em uma descida ao invés de acelerar.

Foi cômodo para mim acreditar que não aprenderia a tabuada, que eu não cresceria, que eu não beijaria e que eu não teria um emprego. Assim como continua sendo cômodo eu pensar, e cravar com certeza, que nunca me formarei na faculdade, nunca conseguirei aquela promoção no emprego ou aquela viagem do final do ano.

Aquele papo de “vamos pensar que não, pois quando vier o sim a gente fica feliz. Ser der errado, já estávamos preparado para isso, se der certo é lucro!”, é o pior pensamento que se pode ter. Não que devamos ter sempre as expectativas lá em cima, mas querer se rodear de palavras negativas, e de “nunca” ou “não” é muito autodestrutivo.

Aceitar o “não” é a parte mais fácil. Difícil é acreditar que há esperança e motivos para lutar por um “sim”.

Não me entenda mal, não estou falando para ir atrás da exaustão e se forçar a acreditar em falsos positivos. Quando acabar, acabou. Se é não, que seja não! O que eu falo, e na tentativa de te convencer a se conhecer, é que você saiba a hora em que está se sabotando. Não espere que alguém faça por você aquilo que apenas você consegue fazer.

Não se encha de “nunca”, não se complete com “para sempre”. As coisas não são preto ou branco, eu diria até que a vida toda é um nuance de cinza, sabe?

O que eu quero dizer é que você não pode apostar todas as suas fichas em uma única decisão, e esperar que ela seja definitiva. As coisas mudam! E que bom que elas mudam!

Quando eu briguei com a minha melhor amiga, aos 12 anos, eu jurava que jamais falaria com ela novamente. Havia acabado ali. Mas como um tapa bem dado na minha cara, duas semanas depois eu já estava trocando segredos com ela novamente.

Tudo muda. Tudo passa. O nunca vira talvez, que vira sim. O para sempre vira um ano, que vira um mês, que termina. E o que era uma regra exclusiva e certa, vira uma coisa tão incerta que já nem vale nada.

Costumo dizer que se nem a alegria é eterna, por que a tristeza seria? Pense nisso!

Estamos acostumados a cravar as coisas, a acreditar que elas serão de uma única maneira e que sempre estamos certos. Mas a vida (ou o destino, se você acreditar nele) não está de brincadeira, e como uma rasteira de realidade, muito bem dada, é nos mostrado que erramos sim! Erramos feio, erramos rude (citando aqui aquele vídeo famoso do Rafael Infante, no Porta dos Fundos).

Viva hoje com intensidade sim, mas com a certeza de que nada é definitivo, e de que ninguém pode mudar o rumo da sua vida senão você mesmo. Esteja aberto à mudança, ao novo! Se permita experimentar coisas diferentes, se permita viver de uma maneira inusitada. Não é fraqueza abrir mão, não é fraqueza mudar no meio do caminho, não é fraqueza tentar, tentar e tentar de novo.

Vi em um vídeo do Facebook que a maioria das pessoas não temem a morte, mas temem não viver uma vida maravilhosa, temem morrer sem ter vivido o que queriam ter vivido. Afinal, eis aqui a única coisa irreversível (pelo menos por enquanto, não sabemos como a ciência lidará com isso daqui alguns anos): a morte.

A vida é uma só, e ao chegar no final dela devemos estar certos de que vivemos como deveríamos, e que fizemos o que devia ter sido feito. 

Saiba a hora de apostar e a hora de correr para longe. Saiba apreciar a mudança, saiba aceitar o que vier. E como um reflexo em um espelho, saiba ver a si mesmo.

Afinal, você se enxerga?